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Âncora 1
/Notícias/
TRINDADE: do Triângulo ao Ícone 
A festa da Trindade nos mobiliza para uma nova maneira de viver e de nos relacionar com o Deus Comunhão de Pessoas, cuja presença preenche o cosmos, irrompe na vida, habita decididamente no interior de cada um de nós e é vivido em comunidade.  A Trindade “des-vela” a maneira de ser de Deus, como Amor que se expande, em si e fora de si, de uma maneira “redentora”, inserindo-se na história da humanidade. Deus é Amor e só amor. Diante da presença e da ação do Deus Trinitário, afogam-se as palavras, desfalecem as imagens e morrem as especulações. Só nos restam o silêncio, a adoração e a contemplação.  Para facilitar tal atitude, vamos ativar nossos sentidos interiores para que se deixem impactar pelo Icone de Rublev: da Trindade pensada à Trindade adorada. 
 
A Trindade não é fácil de ser representada. Aqui o artista representou-a na figura de três anjos peregrinos, assentados à mesa de Abraão. O quê vemos neste ícone? Três anjos, reconhecidos por suas asas, estão assentados em torno de uma mesa. Os três sustentam um cajado na mão (Trindade Peregrina).  Trata-se de uma representação do relato da hospitalidade de Abraão, que se encontra em Gen. 18, quando o Senhor apareceu ao patriarca na planície de Mambré, sob a forma de três jovens. Abraão os convidou a descansar e lhes ofereceu uma refeição. A tradição patrística viu nesses visitantes uma figura das três pessoas divinas. Podemos nos aproximar do ícone a partir da beleza; num primeiro olhar, a divindade aparece revelando-se como uma grande luz que atrai e purifica. A ausência de sombras no ícone quer fazer refletir a luz divina em tudo, situa-nos diante da santidade de Deus e nos convida a participar da luz da vida trinitária.  Tudo está no mesmo plano, o plano celestial; e, num olhar de fé, detrás da beleza de sua realidade sensível, o ícone nos remete mais além do visível, para a beleza das realidades divinas que representa e transmite; a razão emudece, o coração admira. Ou seja, não é a imagem em si mesma que nos eleva pelo que representa, mas aquilo para o qual ela aponta: o mistério trinitário ou o “excesso de Deus”. 
 Observe, em primeiro lugar, o ritmo ou movimento circular que parece invadir todos os elementos do ícone, convidando-nos a entrar no mistério de Deus.  O movimento que, partindo do Pai, passa pelo Filho e se consuma no Espírito, é um movimento de amor sem fim. Aqui, o ícone deixa transparecer o amor que une às três Pessoas divinas. Trindade é mistério de comunhão. É uma comunidade perfeita. O ícone, através da reciprocidade dos olhares, evoca o eterno movimento de amor que une as três Pessoas divinas, no sentido de que nenhuma delas esgota em si mesma a existência, nem vive por si mesma, senão que subsiste num mistério de total compenetração que ao mesmo tempo as une e as diferencia. Isso é sugerido também pelo movimento circular do rosto inclinado dos 3 anjos, eternamente jovens, sentados à mesa do universo, em torno ao alimento divino; rostos que são semelhantes sem ser realmente idênticos. A linha triangular dos rostos e o círculo dos corpos estilizados indicam um mistério de diversidade na unidade.  Fundidos num êxtase que fala de unidade e de harmonia, os três rostos já dizem tudo.  Pouco importa se o Pai é sugerido pelo anjo do centro ou se, antes, há um movimento que vai da esquerda à direita: o personagem da esquerda indica ser o Pai; o do centro, o Filho; e o da direita, o Espírito Santo. As figuras do centro e da direita olham com rosto respeitoso e humilde para a da esquerda, que se mantém mais erguida que as outras duas, posto que o Pai é origem e princípio de tudo. 
Os três, com efeito, tem a mesma atitude de abertura, de respeito, de súplica e de invocação. Deles emana um mistério de eternidade, de amor, de quietude, de paz, de serenidade. 
 
Esse 
movimento se manifesta igualmente ao fundo do quadro. A árvore se inclina para a esquerda do orante como se fosse submetida ao sopro de um vento forte. Ainda à esquerda se inclinam os planos cortados do teto do edifício. Tudo está em movimento , porque a vida é sair de si mesmo, é doar-se. Esse ritmo exprime a circulação e a comunhão da mesma Vida divina entre as Três pessoas.  Mas a Trindade não se fecha em si mesma. O movimento expansivo expressa adoção, efusão, dom, generosidade e  graça, que admite, convida o ser humano ao círculo divino. Tudo se orienta, na fé, para o mistério, para o encontro D’Aquele que vem. Curvando a árvore, o movimento circular da vida divina atinge a natureza. Inclinando o teto do edifício, atinge a humanidade orante, a humanidade no que ela tem de mais elevado. O mundo todo constitui, de certo modo, a periferia; as Três Pessoas divinas permanecem no centro. 
 Fixemo-nos, agora, nos traços das três pessoas. Elas não tem idade e, no entanto, transmitem uma impressão de juventude. Elas não tem gênero, no entanto elas unem o vigor à graciosidade. As fisionomias e os gestos não foram “construídos” em vista do charme e, no entanto o charme que se desprende é imenso. Rublev soube expressar de uma maneira única a eterna juventude e a eterna beleza das três pessoas. Cada um dos três anjos leva nas mãos um cajado alongado e muito fino. É que cada pessoa divina é um viajante, um peregrino. O quadro ressalta a participação de toda a Santíssima Trindade no mistério da salvação. Os três cajados constituem uma declaração e uma promessa. Eles declaram que os três já vieram fazer morada na humanidade. Eles prometem que os três continuam, através da presença expansiva, a conduzir tudo para a plenitude. O quadro evoca, pois, o conselho das Três Pessoas divinas em vista da redenção do gênero humano. 
 O artista, com sua obra, não pretendia sugerir pensamentos, mas uma oração. A perspectiva do ícone é orante, pois nos predispõe para “entrar” no mistério de Deus; também nos convida a abandonar a lógica cotidiana do útil, para poder entrar na lógica da gratuidade, do espaço místico e cultual, do diálogo com Deus, até os cumes da adoração.  O ícone da Trindade de Rublev nos recorda que não se trata de entender, ou de pensar e estudar o Mistério da Santa Trindade. O decisivo é viver o mistério a partir da adoração e da partilha fraterna. É Deus quem toma a iniciativa de se aproximar dos seres humanos. Como foram até Abraão, a Trindade quer se aproximar também de cada um de nós. Dentro de nós habitam um Abraão e uma Sara. 
 
Que a contemplação deste quadro nos coloque em contato mais profundo com as Três pessoas divinas para poder repetir, prostrados, as palavras de Abraão aos divinos visitantes na planície de Mambré:
 “Meu Senhor, se mereci teu favor, peço-te, não prossigas viagem sem parar junto a mim, teu servo”. E se acolhermos as Três pessoas de todo coração, poderemos, como Abraão, receber de sua boca a certeza de que essa experiência abençoada, longe de ser um episódio isolado, nos será concedida de novo: “passarei de novo pela tua casa”. Só assim sentiremos Vida brotar em nossas vidas, como irrompeu no seio de Sara. Não mais seremos velhos, estéreis e infecundos. A fé faz rejuvenescer. Que a contemplação do belo e do Santo faça brotar em nós a imagem de Deus que é Pai-Filho-Espírito.  Amem! 
 
 

O Sábado Santo é um dia “não-normal”, porque a morte de Jesus na Cruz deixa o silêncio, o vazio e a obscuridade.

“E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (Jo 6,51)

“Quem vos recebe, é a mim que está recebendo; e quem me recebe,  está recebendo Aquele que me enviou” (Mt 10,40) 

“Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que tu ligares na terra...” (Mt. 16,19) 

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Diante da presença e da ação do Deus Trinitário, afogam-se as palavras, desfalecem as imagens e morrem as especulações. 

“Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13-14) 

Todos os anos, o 4º. Domingo de Páscoa inspira-se na imagem do “Bom Pastor”.

“Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles” (Lc 24,15)  

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