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Âncora 1
/Artigos/
O “LADO MAU AMADO” DE NOSSA VIDA
“Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. Deixai crescer um e outro até a colheita” (Mt 13,29-30)
(Pe. Adroaldo, SJ)
A Bíblia fala sempre da vida humana. Nela encontramos inúmeras referências à questão da sombra ou do lado obscuro em nossa vida. Textos emblemáticos são as parábolas de Jesus que des-velam o que somos, o que está acontecendo em nosso interior; em certo sentido, assemelham-se a uma descrição de nossa realidade interior. Não são contos moralizadores; todos os personagens que aparecem somos nós. Por isso, as parábolas são tremendamente iluminadoras. Com efeito, cada um de nós é um tipo diferente de terreno; cada um, o trigo e o joio; cada um, os dois filhos; cada um, o fariseu e o publicano..., e assim por diante, em todas as parábolas. O primeiro e o mais claro que se revela na parábola que a liturgia nos propõe para este domingo, é que a realidade da vida humana é de tal condição, que nela sempre vão estar mesclados o bem e o mal, o trigo e o joio, a boa e a má erva. Este é o fato. Todos gostaríamos que as coisas acontecessem de outra maneira. E que, portanto, não teríamos que ver cada dia tanto joio sufocando o bom trigo que cresce e dá vida. Em nosso interior também sentimos cruamente o trigo e joio, e gostaríamos ser um bom campo de trigo, desses movidos pelo vento, que antecipam um pão abundante; e todo joio que aparece junto a esse trigo nos molesta, desejaríamos arrancá-la e como, depois de muito esforço, não conseguimos, então empreendemos a tarefa de ir buscar joios em campos alheios com um fervor que impressiona.
 
A parábola do joio e do trigo revela a tendência humana em realizar os ideais de perfeição e distanciar-se cada vez mais de sua condição de criatura. O ideal é o ser humano “puro” e “justo”, sem qualquer imperfeição ou fraqueza. Tal tendência nos leva ao rigorismo contra nós mesmos, ou seja, nos leva a proceder com violência contra nossas próprias limitações. Aquele que, a qualquer preço, deseja ser “perfeito”, em seu campo não irá crescer senão um trigo raquítico. Nas nossas raízes o joio está intimamente misturado com o trigo. Quando alguém não admite em si nenhuma falha, com suas paixões ele arranca também a própria vitalidade, com a fraqueza ele destrói também a própria força. Muitos perfeccionistas e idealistas se fixam de tal maneira sobre o joio em seu interior que só pensam em eliminar as falhas, de tal modo que a vida mesma fica prejudicada. De tão perfeitos, eles ficam sem força, sem paixão, sem coração. Numa espiritualidade “perfeccionista”, o ideal é o homem-mulher puro(a) e santo(a), sem defeitos nem fraquezas. Mas isso leva a um rigorismo moral, contra o qual parece dirigir-se a parábola deste domingo. A arte da humanização consiste na reconciliação com a própria sombra. O ser humano comporta em si amor e ódio, razão e emoção, gentileza e dureza... Muitas vezes vivemos apenas um polo e recalcamos o outro. Enquanto este permanecer nas sombras terá um efeito destrutivo. Muitos ficam chocados quando, apesar de todo esforço para serem pessoas amáveis e gentis, descobrem em si lados insensíveis, antipáticos e ofensivos.
 
Um outro aspecto que aparece na parábola é que os “trabalhadores do Senhor”, ou seja, os que se vêem a si mesmos como os vigilantes da ortodoxia e da moralidade, tem a tendência de querer logo arrancar o joio. Ou seja, não toleram que o bem e o mal estejam misturados. E querem um campo limpo de tudo o que eles vêem como joio. Normalmente, esta tendência daqueles que se consideram como “vigilantes do bem” costuma desembocar na intolerância e inclusive na intransigência e no fanatismo. Na “parábola do trigo e do joio” , o impaciente é nosso orgulho, que gostaria de chegar de imediato aos resultados para ficar “satisfeito”. Enquanto vivermos, o joio crescerá no campo do nosso interior. Conviver com isso nos faz mais humildes e nos protege de uma dureza falsa em relação a nós mesmos e aos outros. A sabedoria de Jesus convida-nos a reconhecer em nós, misturados, o trigo e o joio. Este último, que é semeado “durante a noite”, isto é, na obscuridade do inconsciente, podem ser nossas próprias sombras, aquilo que tentamos eliminar porque se mostra incômodo para nós e não combina com nossos ideais pré- fixados... E Jesus não nos pede que sejamos só trigo – essa é a armadilha de toda espiritualidade farisaica - , mas que aceitemos nossa verdade completa e reconciliemos também com o “nosso lado obscuro”.
 
Numa leitura moralista e dualista da vida, nós gostamos de separar o bom do mau, os que pensam como nós e os que não pensam como nós, os que são dos nossos e aqueles aos quais não os levamos em conta. Há muitas pessoas que, não só se sentem capacitadas, senão que, além disso, estão empenhadas em arrancar o quanto antes o que elas pensam que é a erva má. São os intolerantes, os que não suportam aqueles que fazem ou dizem o que eles creem que não se deve fazer nem dizer. Por isso não respeitam o pluralismo, nem a diversidade. Exigem que todos lhes respeite, mas eles se consideram com direito a não respeitar o dissidente, o diferente ou simplesmente o outro. No entanto, o Senhor (dono do grande campo da vida) não quer que ninguém se veja no direito de discernir o que é trigo e o que é joio. Mas, sobretudo, o Senhor não tolera que ninguém se constitua em juiz que, como consequência, vai pela vida arrancando tudo o que a ele lhe parece que é joio. Porque pode equivocar-se. A religião não tem nem autoridade nem competência para decidir o que é joio na sociedade. E menos ainda tem competência para arrancar essa presumível joio. Somente o Senhor pode saber quem é trigo e quem é joio.
 
O ensinamento do evangelho de hoje é claro: sejamos tolerantes e respeitosos. Não julguemos, não condenemos e deixemos a Deus ser Deus. Nós não somos “deuses”. A fertilidade da nossa vida nunca é expressão de uma impecabilidade absoluta, mas resulta da confiança no fato de que o trigo é mais forte do que o joio e de que o joio poderá ser separado na colheita. Em tudo que fazemos devemos ser permeáveis ao Espírito de Deus. Mas sempre devemos permanecer humildes e contar com a possibilidade de que nossas atividades cotidianas se misturem com segundas intenções. Essas são o joio. Mas isso não significa que devemos deixar o joio determinar a nossa vida, através do seu crescimento irrefreado. A questão de fundo é esta: qual dos dois alimentamos em nossa vida: o joio ou o trigo? Aqui se trata de pôr ambos, o trigo que cresce em nós e o joio que espreita, sob o olhar e o cuidado do Semeador; porque só Ele é que pode fazer a colheita. O decisivo é colocar o Senhor no centro de nossa vida; e onde Ele encontra espaço de atuação, ali o trigo cresce viçoso e produz frutos. O caminho do seguimento de Jesus não visa nos transformar em pessoas perfeitas e impecáveis. Antes, deseja encorajar-nos a conviver com nossos lados sombrios. O seguimento de Jesus, portanto, não é combate interno que desgasta, visando eliminar o joio, mas abrir espaço para que o Semeador atue com sua Graça.
 
Texto bíblico: Mt 13,24-43 Na oração:
A vida cristã nos faz especialistas em interioridade precisamente porque somos levados a percorrer, mil e uma vezes, todos os meandros de nosso interior para encontrar, transcendendo luzes e sombras, a Presença criadora que tudo sustenta e vivifica. E é simplesmente dessa maneira que nos tornamos mais humanos e, portanto, mais divinos. - quê lucidez você tem de sua própria sombra (joio) e qual a sua atitude com relação a ela? Quê atitudes você assume para que o trigo determine sua vida?

O Sábado Santo é um dia “não-normal”, porque a morte de Jesus na Cruz deixa o silêncio, o vazio e a obscuridade.

“E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (Jo 6,51)

“Quem vos recebe, é a mim que está recebendo; e quem me recebe,  está recebendo Aquele que me enviou” (Mt 10,40) 

“Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que tu ligares na terra...” (Mt. 16,19) 

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Diante da presença e da ação do Deus Trinitário, afogam-se as palavras, desfalecem as imagens e morrem as especulações. 

“Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13-14) 

Todos os anos, o 4º. Domingo de Páscoa inspira-se na imagem do “Bom Pastor”.

“Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles” (Lc 24,15)  

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