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Âncora 1
/Artigos/
Tempo das Raízes
“Quando o sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz” (Mt 13,6)
Pe. Adroaldo Palaoro, sj
Temos perdido as raízes? Como conectar-nos com elas? Quê raízes nos alimentam? Onde estamos enraizados? Quais são as raízes que nutrem atualmente nossa vida? São as melhores?
 
Enraizamento, fincar raízes, viver da profundidade das raízes… O “novo” vem das raízes, vem de baixo, da base, do chão da vida. É preciso relançar uma nova radicalidade. Viver a partir das raízes, projetar a partir das raízes, criar a partir das raízes. É tempo de fortalecer as raízes; e viver o tempo das raízes para ser presença “diferenciada” na realidade cotidiana de cada um.
 
Neste novo contexto em que vivemos, marcado pelo desenraizamento, promove-se muito mais viver em mundos virtuais, em espaços criados pela tecnologia, comunicando-se através de relações informáticas com pessoas distantes, desenraizandose do próprio chão existencial; no emaranhado das imagens e sons perde-se a noção daquilo que é essencial, decisivo para a vida; vive-se na superfície dos acontecimentos e de si mesmo; mina-se a consistência interior e fundamento sobre o qual se apoia a própria vida; esfria-se toda proximidade e relação com o outro; petrifica-se todo compromisso com as causas sociais…
 
Desenraizar-se é desumanizar-se.
 
Jesus, o homem enraizado em seu povo e sua cultura, traçou seu caminho em parábolas. Suas palavras romperam a ordem oficial do templo, a segurança dos sacerdotes, a razão dos escribas, colocando todos os homens e mulheres do povo frente à proposta de vida plena e feliz, desejada pelo Pai.
 
As parábolas parecem revelar a verdadeira identidade de Jesus; é como se alguém lhe perguntasse: “quem és tu? O que fazes?”. Segundo Mateus, Jesus é o verdadeiro semeador. Por isso, é decisivo prestar atenção ao seu modo de semear. E Ele faz isso com uma surpreendente confiança; semeia de maneira abundante; as sementes de humanidade são lançadas em todos os tipos de terrenos, mesmo entre aqueles onde a germinação parece difícil. O semeador não desanima nunca; sua semeadura não será estéril.
 
A parábola do “semeador” é muito precisa, nem uma palavra a mais, nem uma a menos; nenhum floreio ou comentários em excesso… Austeramente, Jesus descreve o que acontece com a semente, partindo das experiências normais da agricultura de seu tempo, um exemplo concreto do trabalho nos campos, de maneira que todos os ouvintes podiam entendê-lo.
 
Tudo é normal e todos se descobrem imersos nela, como se estivessem juntos construindo a parábola, buscando seu sentido. Pois bem, quando ela é escutada dessa forma descobrimos que ela desafia todas as convenções sociais, pondo em movimento nossa vida, pois ela fala de nós, do que somos e fazemos. Assim ela se revela surpreendente, pura transparência, como um chamado à nossa própria criatividade.
 
Nesse sentido, toda parábola vem iluminar e inspirar nosso modo de seguir e de nos identificar com Jesus; tal seguimento não é questão de uma simples adesão à pessoa de Jesus, mas um enraizamento na vida d’Ele, buscando ali a seiva que vai dar novo sentido à nossa existência.
 
A “nova radicalidade” (e não radicalismo) é a forma de seguir a Jesus. É uma radicalidade amável e expansiva, porque quem chega às raízes descobre-se enraizado na natureza humana, naquilo que todos compartilham e, por isso mesmo, descobre-se e sente-se enraizado no Outro.
 
Ninguém pode viver sem raízes, pois não se sustentaria de pé. Quando perde suas raízes, o ser humano se atrofia e fica privado de algo decisivo, essencial: de uma fonte de vitalidade.
 
A verdade é que a vida cristã nos pede “desenraizamento” de algumas realidades que nos envenenam e fazem romper as relações (enraizamento no poder, na riqueza, na centralidade do próprio ego, na cultura da superficialidade…). Para dizer um “sim” ao seguimento de Jesus e enraizar-nos em uma realidade verdadeiramente consistente (sua palavra e vida) é preciso dizer “não” àquelas outras realidades, desprender-nos delas, desenraizar-nos delas.
 
Ao nos convidar a ter raízes profundas, o Evangelho de hoje está afirmando algo muito importante: nesta terra, nesta realidade social, cultural, eclesial e política, já está semeado o Reino, já está viva e ativa a presença do Deus fiel que cria futuro. Nós nos alimentamos desta realidade na medida em que nos deixamos semear nela.
 
Somente aquele que se deixa semear experimenta o sabor da seiva da vida de Deus entrando por suas raízes, percorrendo seu ser inteiro, fazendo-o crescer e dando os frutos de que nosso povo precisa. Aquele que não se deixa semear vive de ilusões e quimeras que envenenam sua existência.
 
O duro trabalho de lavrar a terra, de semear e semear-nos nela, supõe um amor pela terra.
 
Acreditamos nela, a apalpamos entre os dedos para sentir sua qualidade. O camponês ama sua terra não só pelo que lhe possa produzir, mas porque nela está presente a herança de gerações familiares que lhe precederam. Sua terra tem nomes e sobrenomes: para ele é um ser vivo com sangue de família em suas entranhas.
 
Amamos a terra na qual estamos semeados como Jesus amou o seu povo?
 
Ter as raízes fincadas na história, na realidade, raízes que a partir do oculto nutrem nossa vida e alargam o coração, é saber que temos uma origem e uma meta que é o próprio Deus.
 
Raízes que se entrecruzam por debaixo do solo, no profundo, compartilhando a mesma água e o mesmo húmus. Vida nova, que cresce a partir de dentro e a partir de baixo, a partir do oculto.
 
Ramos que se abrem e se curvam buscando a luz. Uma vida iluminada. Profundidade, serenidade e descanso. Solidariedade e comunhão. Vida que cresce em companhia. Vida consistente. Solidão habitada e fecunda.
 
Muitas vezes o enraizamento supõe estar presente naquelas realidades das quais muitos fogem, das quais muitos renegam, ou que são somente terras de passagem, fronteiras que geram medo e insegurança.
 
O enraizamento supõe respeito para com toda realidade, amar a terra concreta tal como ela é, como Jesus que, na Encarnação, foi semeado naquela terra dominada e excluída da Palestina.
 
Foi no enraizamento do chão daquele povo que Jesus foi se humanizando e abrindo-se à novidade do Rei-no do Pai que tudo transforma. Assim expressa Jesus de si mesmo quando se comparou com a videira plantada na terra de Israel.
 
É preciso deixar-se semear não só onde a terra já está preparada durante gerações, mas também nas margens da realidade, na dureza das terras sem arar, cheias de pedregu-lhos e de espinhos. Não podemos fugir da realidade que temos de arar, semear e cultivar com sua dureza e com seu encanto.
 
Texto bíblico: Mt 13,1-23 Na oração:
Uma vida que se enraíza, é uma vida firme, consistente. Por outra parte, as raízes na planta, são as que se introduzem na terra e crescem em sentido contrário do tronco, servindo-se como sustentação. Graças a elas pode absorver o alimento necessário para seu crescimento.
 
- quais são e onde estão as raízes nas quais seu coração se alimenta?
 
- onde apoia sua vida? quê é o que a sustenta?
 
Artigo Pe. Adroaldo Palaoro, sj Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana – CEI

O Sábado Santo é um dia “não-normal”, porque a morte de Jesus na Cruz deixa o silêncio, o vazio e a obscuridade.

“E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (Jo 6,51)

“Quem vos recebe, é a mim que está recebendo; e quem me recebe,  está recebendo Aquele que me enviou” (Mt 10,40) 

“Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que tu ligares na terra...” (Mt. 16,19) 

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Diante da presença e da ação do Deus Trinitário, afogam-se as palavras, desfalecem as imagens e morrem as especulações. 

“Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13-14) 

Todos os anos, o 4º. Domingo de Páscoa inspira-se na imagem do “Bom Pastor”.

“Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles” (Lc 24,15)  

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