Criadas para a beleza
Todo o nosso ser vive fascinado pelo belo! Esta tendência ontológica encontra sua raiz na teologia da criação: "E Deus viu que tudo o que Ele fez é muito bom, é muito belo!" Tão belo e tão bom que o próprio Deus precisou "repousar" para contemplar, saborear, confirmar e abençoar. Como sua imagem e semelhança tudo em nós e na criação clama harmonia, beleza, amor. Tudo é movimento e tudo é relação. Festejar a magna festa como Servas da SSma. Trindade é voltar a esta origem e nos reencantar pela vida. Não é necessário muito discurso para mergulharmos no mistério Trinitário, basta renovar nosso compromisso batismal e recordar o primeiro amor que nos fez sair de nossa própria terra e peregrinar através da mística da Consagração religiosa.
Advento e Êxodo como movimentos da criação: como advento temos todas as possibilidades de acolher as novidades que se manifestam na história, com discernimento e compromisso. Como êxodo vivemos a constante saída de nós mesmas, do próprio lugar para ir ao encontro do outro e do grande Outro. Advento e êxodo, movimentos trinitários, elementos fundamentais para renovar nossa consagração na magna Festa.
Trindade Relação
Na Trindade, cada Pessoa contemplando a beleza expressa no rosto da outra, percebea sua própria beleza, revelada na criação que gera compaixão e solidariedade. Na koinonia divina há eterna reciprocidade e reconhecimento do outro como diferente.
Para contemplar o mistério Trinitário é fundamental reconhecer o dinamismo do Espírito Santo que impulsiona a vida da comunidade para a configuração com Jesus Cristo. "Quando vier o Espírito de verdade, Ele vos conduzirá a verdade plena"(Jo.16,13). Ele revela o ser humano criado à imagem de Deus, como um ícone vivo da Trindade. A SSma. Trindade é uma comunidade relacional, de Pessoas distintas, amorosamente inter-relacionadas, em comunhão de ser, de bem e de vida de modo que o universo inteiro e cada criatura tem sua origem fontal nessa amorosa comunhão trinitária.
Diante da Trindade devemos calar em adoração.
Nossa congregação nasceu de uma profunda experiência de uma jovem arrebatada pela presença amorosa de Deus Trindade, fonte de vida e de soerguimento para um mundo esmagado pela injustiça e egoísmo. Todo o gesto de comprometimento para que o Reino de Jesus venha a nós, toda luta por um mundo mais integrado nas relações humanizantes, brotou do coração de uma mulher prostrada em adoração.
Lemos em seu testamento: "Nossa vida tem como fim único a glória das Pessoas divinas que em nós habitam, portanto. adorarmos em Deus o que constitui seu mistério íntimo - a Trindade das Pessoas na unidade da natureza - é explicitarmos nossa fé na maravilhosa realidade que acontece nas profundezas de nosso ser: o Pai gera o Filho e ambos se unem no Espírito. Como Servas, queremos viver à luz deste
mistério." ( M. Celeste Const.4) Recordando nossa Assembléia de janeiro, assessorado por Maria Freire, adorar está
no sentido de tornarmos apofáticas diante do mistério, que significa silêncio profundo, via mística, dizendo o que Ele não é. Deus não se define. Prostrar-se diante do mistério. Silêncio... silêncio... Mas fomos instruídas na teologia catafática, teologia dos conceitos, do intelecto. Chega-se a Deus pelas afirmações e definições. Tanto um como outro é necessário:
amor ao estudo da fé
senso do mistério
compromisso com o povo
Chamadas de adoradoras da SSma. Trindade é necessário interiorizá-la e mergulhar dentro dela. Que nossa fundadora nos ajude a nos fascinarmos cada vez mais por este mistério, beleza sempre antiga e sempre nova. Onde é que te encontrei para poder conhecer-te? Que luz é esta que brilha diante de mim e golpeia o meu coração sem o ferir? (Sto. Agostinho)
A Pericorese
Renovar nossa Consagração na festa da SSma Trindade é um convite a silenciar amando o Mistério. Vamos tirar as sandálias e contemplar a sarça ardente que se manifesta tanto em meio a uma sociedade conturbada e barulhenta como nos desertos da vida. É necessário entrar na revelação da essência de Deus: Aquele que vê, sente, ouve os clamores do povo e desce para libertá-lo. (cf.Ex.3,7) Gregório Nazianzeno ao tratar da comunidade trinitária, parte originalmente do Espírito para passar deste centro a contemplar o Filho e o Pai, e não há nenhuma
contemplação do Espírito sem o Filho e sem o Pai e nenhuma contemplação do Pai, sem o Filho e o Espírito, é a dinâmica pericorética trinitária. A Trindade não é uma sociedade fechada, enclausurada e amante em si mesma, sem derramar seu amor para o outro totalmente outro que é a sua criação. Deus se revela criando e amando a sua criação. Ele faz história conosco. O termo Pericórese em sua origem grega
designa dança. Dança em círculo, girando e rodeando em torno do outro. Estes conceitos não são novidades para nós, mas sempre é uma convocação. Estamos convocadas a participar desta dança, seguindo o jeito do dançarino Jesus que nos dá o seu próprio Espírito.
Crer na SSma. Trindade é uma atitude de vida, é constante conversão ao Amor circular. Que nossas comunidades estejam sob a luz da Trindade, vivenciando:
ver de novo: "Senhor, que eu possa ver novamente"(Lc. 18,41)
encontro pessoal com Jesus Cristo-amor primeiro. (Ap.2, 3-5)
voltar-se sempre para escutá-lo. (Ap.1,1 2)
anunciar o que viu e ouviu ...(l Jo.1,3)
procurar ver Jesus entre a multidão dos pobres (Lc.18,3)
capacidade de inculturar-se e descobrir os novos sujeitos da missão
fazendo sempre memória de nossa querida fundadora
Que a renovação de nossa consagração nos coloque na Dança Divina!
Ir. Gelza Maria Freitas Ribeiro
(Extraído da apostila de Ir. Maria Freire)