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 Editorial  Servas

Democracia e saúde na eleição da Mesa Diretora do Conselho Municipal de Saúde


Neste ano, os cargos de presidente e vice serão ocupados por representantes do segmento usuário

 

Maria José Pinto, militante histórica pró-SUS Contagem, é a nova presidente do Conselho Municipal de Saúde

 

O Conselho Municipal de Saúde (CMS) de Contagem reuniu-se, na terça-feira (26), no auditório da Prefeitura, para eleger a nova Mesa Diretora, para o ano de 2019. Cerca de 70 pessoas estiveram presentes, entre delegados, suplentes, gestores e observadores em geral. Todos os segmentos – gestores, trabalhadores e usuários da rede SUS/Contagem – estiveram representados.

Após as 16 pessoas com direito a voto indicarem suas preferências, em sessão com voto aberto, uma mesa com formação inédita em Contagem foi escolhida. Neste ano, as posições de presidente e vice serão ocupadas por representantes do segmento usuário. A participação de um trabalhador da Vigilância Sanitária ocupando a Primeira Secretaria também é uma novidade na Mesa Diretora do Conselho.

Maria José Pinto foi eleita a presidente da Mesa, e Raymundo Rodrigues, o vice-presidente. Ambos representam o segmento usuário. Elane Lobo, inspetora sanitária na Vigilância Sanitária e representando o segmento trabalhador, foi eleita primeira-secretária. Representando o segmento gestor, Ronaldo Gontijo, ex-presidente do CMS, foi eleito segundo-secretário.

A Mesa Diretora do Conselho Municipal de Saúde (CMS) deve ser composta por um presidente, um vice-presidente, um primeiro-secretário e um segundo-secretário. Independentemente do resultado da votação, a composição eleita deve conter dois representantes do segmento usuário, um do segmento trabalhador e um do segmento gestor. Mas é a votação em plenário que define quem irá ocupar os cargos.

Quem é Maria José?

Ela já foi suplente, delegada, segunda-secretária, primeira-secretária e vice-presidente da Mesa Diretora do Conselho Municipal de Saúde de Contagem. Após ter sido eleita para ocupar todas essas posições, Maria José Pinto agora assume a presidência da Mesa.

Nascida em 1952, essa capixaba cheia de vida recebeu, em 2003, o diagnóstico de esclerose múltipla. Como consequência da doença, passou por diversas dificuldades de locomoção. Iniciou tratamento no estado do Rio de Janeiro, mas logo se mudou para Contagem, por volta do ano de 2004, e precisou aprender sobre os caminhos do acesso à rede de saúde para dar sequência ao tratamento.

Quando tentou realizar a transferência do tratamento para Belo Horizonte, que é a referência para esse tipo de encaminhamento até hoje, precisou ir conhecendo como funcionam as engrenagens da saúde pública. Ali, nascia uma ativista em prol do Sistema Único de Saúde (SUS) que nem a esclerose múltipla conseguiu impedir de travar as lutas e fazer os debates necessários para o fortalecimento e a consolidação da saúde como um direito.

Veja abaixo um pouquinho da história dessa guerreira:

“Em Contagem, comecei com os Conselhos Locais de Saúde, logo quando cheguei aqui na cidade. Eu era referenciada no Rio de Janeiro. Até porque eu era portadora de uma doença, tive de aprender os caminhos para acessar o serviço em BH, porque a cidade era e é referência para esclerose múltipla.”

Calvário e resistência.

“Percorri todos os setores da saúde de Contagem e cheguei a buscar a Promotoria para resolver a questão. Disseram-me que eu tinha dois caminhos: o primeiro era tentar acionar o Ministério da Saúde, para mudar o tratamento para Belo Horizonte, e o Ministério dos Transportes, para garantir minhas idas e vindas entre Contagem e BH. O segundo caminho era tentar acionar o município de Contagem, para que a cidade arcasse com os custos das idas e vindas do Rio de Janeiro. Comecei a pensar sobre quantas pessoas não acessam serviços de saúde por falta de conhecimento sobre o sistema e os mecanismos de acessos a ele.

Acabou que não acionei o município, mesmo continuando referenciada lá no Rio de Janeiro, porque integro um grupo de pesquisas ligado a um hospital federal situado nesse estado, à UFRJ e à uma equipe multidisciplinar composta por oito países, e esse grupo arca com custos como o transporte para o Rio de Janeiro.

Nesse processo todo, cheguei a ir para uma cadeira de rodas. O primeiro passo para voltar a me locomover fora dela foi conhecer mais sobre a doença, saber que não tem cura, que é uma doença autoimune que pode ser controlada. Oito meses depois, consegui sair da cadeira e comecei a usar muletas e depois apenas uma bengala.”

Eleição com resultado inédito.

“Eu mesma levei um susto com o resultado da eleição. Todas as regras foram seguidas e, ao fim, tivemos uma presidente e um vice ambos representantes do segmento usuário. Esse é um dado relevante, porque nós, usuários, estamos na base e sabemos, por experiência própria, sobre as necessidades da população.

Pra mim, a eleição para presidente do Conselho representa um desafio e uma grande responsabilidade de construção coletiva. Meu estilo é o de avançar em vista do coletivo, e não tenho em mente somente posições específicas de um segmento, embora as particularidades sejam também importantes.

Mas eu sou mais da soma. Na medida em que formamos o coletivo, precisamos ter o discernimento de que de todos os lados virão coisas boas. Nem sempre quem está gerindo (segmento gestão) ou trabalhando (segmento trabalhador) consegue ver o lado do segmento composto pelos usuários. Os segmentos, em separado, não conseguem ter uma visão mais completa do todo. Construção coletiva é isso.”

Participação na cerimônia de entrega de cadeiras de rodas motorizadas

Crédito: Fábio Silva.

“Fico feliz em registrar que, em 27 de fevereiro 2019, um dia após ser eleita e empossada presidente do Conselho Municipal de Saúde de Contagem, participei de um evento que marcará a minha trajetória em 2019, que foi a entrega de 126 cadeiras motorizadas para quem delas necessitam – com recursos próprios, seria impossível para as pessoas que receberam essas cadeiras adquiri-las. Cadeiras como essas, advindas da gestão pública, conferem a essas pessoas muito mais do que um veículo, mas também a devolução da dignidade, da liberdade, da autoestima e do direito de exercer a cidadania.

Agradeço a gestão pública da cidade de Contagem, incluindo os poderes Executivo e Legislativo, pela sensibilidade no administrar com olhar diferenciado para os contagenses. Meu agradecimento especial vai para Maurício Rangel, que foi subsecretário de Assistência em Saúde, e para o secretário municipal de Saúde, Cléber de Faria Silva.”

Saúde - 28/02/2019, 14:36:35 - Repórter: Carolina Brauer - Foto: Elaine Castro Tags: Cadeiras de Rodas Motorizadas • Conselho Municipal de Saúde


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