A liturgia cristã santifica e ilumina nossas horas. Ela envolve o Mistério Pascal nos mistérios de nossa vida e na vida do planeta, nossa casa comum. Em tempo quaresmal, enquanto seguíamos os passos de Jesus para sua entrega total na Cruz, foi anunciado a chegada do vírus mortal, covid 19.Estarrecidas pela destruição de tantas vidas e pelo despreparo do Serviço público de saúde, recebíamos a ordem do isolamento social:" fiquem em casa". Quaresma na quarentena! O Papa Francisco foi o ícone do intercessor que nos ajudou a viver a mística profunda da Paixão de Cristo e a Paixão da Humanidade. E a Páscoa chegou ao mesmo tempo que o vírus devastava milhares de vidas. Como dizia o Salmista, assim clamávamos nós: "Como te cantarei, Senhor! Nossa terra está doente e estranha. Que saudades da vida plena, desejo de Deus."(Sl. 137)
Em tempo pascal, na certeza de que o FilhoJesus venceu a morte e os sistemas de morteque geram outras pandemias, nossas “aleluias” foramproclamadas na fé, na esperança e muitas vezes entre lágrimas e gemidos de dores. As más notícias invadiam nossas expectativas de dias melhores. O cenário de dor e impotência que caía sobre nós, sobretudo no meio dos mais pobres, parecia contradizer com a alegria Pascal. Mas a liturgia teimosamente nos convocava para a festa da vidae a centralidade em Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, Aquele que anunciou e assim fez: "O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres, enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor."(Lc. 4,18-19).
A oferenda de vida de Jesus, volta-se para a realidade de um mundo doente, gerador de extrema pobreza: pandemia da fome; para um mundo cujo sistema injusto fabrica suas próprias prisões: economia perversa; para a cegueira provocada pelo egocentrismo: cuja referência é o próprio eu inflado. É neste contexto que Jesus continua se declarando o Servo Libertador, transformando o tempo kenótico em tempo kairós.
Ano da bênção do Senhor
Os textosdos Evangelhos no tempo Pascal, mistagogicamente arrastaram nossos corações para as experiências da vitória da vida sobre a morte. Acompanhamos Maria Madalena que exclamou: "Eu vi o Senhor" em tempos de morte e de vazio; os discípulos de Emaús que proclamaram: "Fica conosco Senhor, pois é noite", enquanto caminhavam decepcionados; contemplamos a casa dos discípulos quando Jesus entroue Soprou sobre eles dizendo:"Recebei o Espírito Santo", em tempos de muito medo; estivemos no Mar da Galiléia, sem sucesso na pescaria, quando João O reconheceu na margem e professou: "É o Senhor"! Caminhamos com as mulheres dos perfumes quando foram interpeladas: "Não procurem entre os mortos Aquele que não está no túmulo. Sigam para a Galiléia"! Na pedagogia da fé, a comunidade Joanina, nos ofereceu mais um encontro pós ressurreição em que Jesus pergunta a Pedro e hoje a nós: "Tu me amas?Apascenta as minhas ovelhas." De experiências em experiências o Cristo Ressuscitado foi amadurecendo a fé de seus discípulos e discípulasnas circunstâncias concretas em que viviam: decepção, medo, solidão, derrota, opressão, perseguição e ausência do Amado.
O mesmo Espírito que ungiu e enviou Jesus, é o Prometido a nós e a nós enviado. "Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará o Paráclito, o Advogado e Consolador". Na Cruz, dor suprema, Jesus se dirige ao Pai devolvendo o seu Espírito: "Pai em suas mãos entrego o meu Espírito". O Pai nada retém, Ele acolhe o Espírito de Jesus e derrama sobre nós e sobre todo o universo a efusão do Espírito na Cruz. Na mística dos 50 dias pascais, fomos assim conduzidas e mergulhadas na ressurreição de Jesus, mesmo cercadas por crescentes estatísticas de doentes e mortos e de desentendimentos políticos.
Na agonia da humanidade chagada, a liturgia celebra a Festa de Pentecostes: o Ressuscitado do Pai, retira de suas entranhas o Sopro de vida e proclama: Recebam o Espírito Santo e ao mesmo tempo mostra os sinais de suas chagas. Ele vem como dom do Pai, dado a nós em Jesus, o Filho amado. As Celebrações às portas fechadas não perderam seu grande significado de renascimento, encorajamento e o convite de mais ousadia no seguimento de Jesus.
A SSma. Trindade presente na história, é o grande hino da liturgia: "Por N. Senhor Jesus Cristo vosso Filho, na unidade do Espírito Santo"! Assim celebramos a Festa da SSma. Trindade como coroamento da História da Salvação: "Deus é único sem ser sozinho, são Três amando num só coração". A comunidade Trinitária nos envolve em sua pericorese de amor e nos chama a cirandar com a humanidade chagada gritando por misericórdia".
Como cristãos e cristãs, fomos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mergulhados nesta Fonte, temos em nós o caminho para saciar nossa sede de justiça e amor. A Trindade Santa é o lugar da saída e da chegada. É a fonte que sacia nossa sede de amor e ao mesmo tempo não nos permite desencantar da vida, mesmo que seja a "noite"da humanidade.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!
Ir. Gelza Maria Freitas Ribeiro - sts
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